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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 11 de maio de 2024
 

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Mensagem: Pedaços da minha vida

Ruth Tupinambá Graça

Em 1972, a nossa cidade era tão tranqüila e a Rua Dr. Veloso (onde eu morava) cheinha de casas coloniais, habitadas por famílias tradicionais, vizinhos que se comunicavam, se divertiam, sempre prestimosos e prontos a cooperarem no que o vizinho precisasse.
Não havia esse “corre corre” de hoje, essa loucura atrás das “cifras” dominados pelo consumismo, nem tão pouco estes muros altos e cercas elétricas (isolando os moradores) dificultando a comunicação.
Nesta época eu fazia faculdade (na antiga Fafil) na Rua Cel. Celestino e descia, a pé, pela Rua Dr. Veloso, sem me preocupar com os atropelos, os acidentes causados hoje pelo acumulo de carros e motos nas estreitas ruas.
A rua era tão tranqüila e tão silenciosa que eu ia, calmamente, recordando-me (para melhor gravar) principalmente os trechos mais difíceis que estudara para provas.
Eu me sentia feliz (já com 56 anos) freqüentando uma faculdade que antes não tive oportunidade. Era a vovó da turma e não podia deixar a “peteca cair” tinha que estudar e estudar muito, para competir com aquela mocidade brilhante, ávida de conhecimentos. Alunas especiais, muito inteligentes compunham nossa equipe: Ana Maria Resende (hoje deputada estadual), Yeda Romano, Mundinha Quintino, Yvany Teles, Miriam Murta, Maria do Carmo Santiago, Irmã Ângela e Irmã Terezinha e Ruth Tupinambá Graça.
Mas eu tive muita sorte, terminei o meu curso de Pedagogia, aos 60 anos e não fiz uma prova final, compensação pelo meu esforço e aplicação.
Como era gostoso, no fim das aulas, depois de uma preocupação estafante, sentir que fizera boa prova e voltar para casa com essa sensação de vitória!
Íamos felizes sabendo que no dia seguinte voltaríamos e a escola nos acolheria como uma galinha de longas asas e nos protegeria.
Quando entrava em casa era aquela alegria! Os netos já me esperavam, cada qual mais bonitinho (desculpe a falta de modéstia) querendo saber o que a vovó guardava, onde estavam as balas de mel e chocolate, os pirulitos e os biscoitinhos de coco deliciosos que se desmanchavam na boca. Era aquela folia!
Também nesta hora, meu marido já chegara da fazenda e me esperava ansioso, de olho no relógio e sempre “candonigando” sobre o meu atraso, uma vez que a faculdade era tão perto!
De fato era perto, mas quando passava em frente à Praça da Matriz, (hoje Dr. Chaves) ela envolvia-me, atraía-me e meus pensamentos voavam.... Aquela praça onde vivi os melhores anos da minha vida: infância, adolescência, juventude, quando trazemos o coração cheio de sonhos e esperanças! Quando sentimos que, tudo que nos cerca é cor-de-rosa e que na vida só encontraremos flores... Nenhum espírito possa nos ferir...
Aquela Praça tranqüila me envolvia tanto, tanto, que até me esquecia que a família me esperava (em casa) e me entregava às recordações.
As lembranças vinham, uma a uma, como um filme colorido, lindo, que se viu na infância e do qual nunca se esquece.
Eu me via, em criança, correndo naquela Praça tão querida, com os pés atolados na poeira, feliz com aquelas brincadeiras de roda, chicotinho queimado, Veadinho quer mel, de crianças, simples como a nossa cidade.
Lembro-me da Banda Euterpe Montesclarense toda empolgada enchendo o antigo “coreto” (já demolido) com seus instrumentos reluzentes espalhando um som maravilhoso por todos os lados....
Em minha lembrança vinham as festas da Matriz: as coroações do mês de Maio, onde os anjos da nossa cidade homenageavam a virgem Maria com lindos cantos. Havia tanta disputa naquelas coroações! Toda criança daquela época queria subir no altar e colocar a coroa resplandecente na cabeça da mãe de Jesus e cobri-la com pétalas de flores que se espalhava pelo singelo altar da Matriz...
E as novenas do mês de Maio? Eram animadíssimas. E os leilões na porta da Igreja? Ninguém perdia uma só noite, principalmente os jovens, pois era a oportunidade para os namorados se encontrarem fugindo da vigilância dos pais (aproveitando o escurinho da Praça) as mãos se encontravam e os lábios roçavam, levemente, as faces ruborizadas da namoradinha... Naquele tempo isso era uma grande aventura.
E as Festas de Agosto? Quanta saudade. Os catopés com seus capacetes, enfeitado de espelhos, contas coloridas e aljôfares, dançando com suas fitas coloridas que volteavam no ar, ao som forte dos tambores.
Os caboclinhos, crianças alegres com suas tangas de penas coloridas e o corpo pintadinho de urucum empunhando flechas e arcos, felizes sob o comando da “mamãe vovó” que tinham enormes tranças (de corda de bacalhau), saia rodada e tecido florido e alegre, fazendo mil piruetas na “trança do cipó”, chamando a atenção da meninada que acompanhava, (pulando ao som dos pandeiros), aqueles pequenos índios.
Os marujos com suas roupas de cetim, coloridas, e as grotescas mascaras de arame (que muitas vezes me assustavam), espadas brilhantes relembrando as batalhas dos tempos medievais. Era tudo tão lindo!
As “Cavalhadas” que hoje não mais existem, eram o ponto alto das festas de Agosto. Recordo-me do meu pai, quanta saudade! Durante muitos anos (da minha infância) eu o vi correr Cavalhada, era o mais bonito Rei Cristão.
Eu me sentia feliz e orgulhosa, vendo-o naquele uniforme de cetim azul, tão lindo, dragonas douradas, montado num fogoso cavalo, desfilando com tanta elegância, espada encostada ao peito e a brilhante coroa em sua cabeça...
A Banda tocava uma valsa dolente (Saudades de Ouro Preto) e ele sobressaia entre aqueles cavaleiros que o acompanhavam (simulando uma batalha entre mouros e cristãos) e sua capa de veludo azul volteava no ar movida pelo vento...
Os anos passaram, a “Cavalhada” desapareceu dos festejos de Agosto, mas eu nunca a esqueci. E do meu garboso Rei Cristão guardo as melhores recordações.

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